Revista de Economia e Sociologia Rural
http://www.resr.periodikos.com.br/article/doi/10.1590/1806-9479.2021.240128
Revista de Economia e Sociologia Rural
Artigo Original

Tendências recentes da agricultura familiar no Brasil e o paradoxo da pluriatividade

Recent trends of family farming in Brazil and the pluriactivity paradox

Carlos Alves do Nascimento; Joacir Rufino de Aquino; Mauro Eduardo Delgrossi

Downloads: 13
Views: 1322

Resumo

Resumo: Os resultados do Censo Agropecuário 2017, divulgados no final de 2019 pelo IBGE, abriram os debates acerca das características e dos motivos da redução absoluta do contingente de agricultores familiares no Brasil vis-à-vis os números apresentados em 2006. Isso posto, o objetivo do presente artigo é se inserir nessa discussão e contribuir com a mesma a partir da utilização dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD (de 2006 a 2015) para avaliar a evolução do número de produtores pertencentes à agricultura familiar no país. Os resultados da pesquisa revelaram que a pluriatividade se tornou, em virtude da aplicação dos critérios da Lei da Agricultura Familiar de 2006, um elemento potencial de impedimento de uma parte expressiva das famílias de contas próprias serem classificadas como agricultura familiar, o que contribui para a sua retração nas estatísticas oficiais. Por sua vez, ao lado da agricultura familiar que comercializa parte de sua produção, o trabalho mostra que uma parcela crescente da categoria se dedica a atividades produtivas para o próprio consumo, exigindo políticas públicas de inclusão produtiva e de desenvolvimento rural.

Palavras-chave

agricultura familiar, autoconsumo, pluriatividade, famílias rurais

Abstract

Abstract: The results of the 2017 Agricultural Census, released at the end of 2019 by IBGE, opened the debates about the characteristics and reasons for the absolute reduction of the contingent of family farmers in Brazil vis-à-vis the figures presented in 2006. That said, this article aims to be part of this discussion and to contribute to it from the use of microdata from the National Household Sample Survey - PNAD (from 2006 to 2015) to assess the evolution of the number of producers belonging to family farming in the country. The results of the research revealed that pluriactivity has become, due to the application of the updated criteria of the Family Agriculture Law of 2006, a potential element to prevent a significant part of self-employed families from being classified as family farmers, which contributes to reducing the number of this segment of farmers in official statistics. In turn, alongside family farming that sells part of its production, the work shows that a growing portion of the category is dedicated to productive activities for its consumption, requiring public policies for productive inclusion and rural development.
 

Keywords

family farming, self-consumption, pluriactivity, rural families

Referências

Abramovay, R. (1992). Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo: Hucitec.

Alves, E., & Rocha, D. P. (2010). Ganhar tempo é possível? In J. G. Gasques, J. E. Vieira Filho & Z. Navarro (Orgs.), A agricultura brasileira: desempenho, desafios e perspectivas (pp. 275-290). Brasília: IPEA.

Aquino, J. R., & Nascimento, C. A. (2020). A Grande Seca e as fontes de ocupação e renda das famílias rurais no Nordeste do Brasil. Revista Economica do Nordeste, 51(2), 81-97.

Aquino, J. R., & Schneider, S. (2015). O PRONAF e o desenvolvimento rural brasileiro: avanços, contradições e desafios para o futuro. In C. Grisa & S. Schneider (Orgs.), Políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil (pp. 53-81). Porto Alegre: Editora da UFRGS. Recuperado em 18 de novembro, de http://www.ufrgs.br/pgdr/publicacoes/livros/outras-publicacoes/politicas-publicas-de-desenvolvimento-rural-no-brasil

Aquino, J. R., Gazolla, M., & Schneider, S. (2018). Dualismo no campo e desigualdades internas na agricultura familiar brasileira. Revista de Economia e Sociologia Rural, 56(1), 123-142.

Balsadi, O. V., Belik, W., & DelGrossi, M. E. (2019). The rural of São Paulo state in perspective: evolution of agricultural and non-agricultural occupations in the 2004-2014 period. Revista da ABET, 18, 120-140.

Belik, W. (2015). A Heterogeneidade e suas implicações para as políticas públicas no rural brasileiro. Revista de Economia e Sociologia Rural, 53(1), 9-30.

Brasil. (1996). Decreto Nº 1.946, de 28 de junho de 1996. Recuperado em 10 de Janeiro de 2020, de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D1946.htm.

Brasil. (2006). Lei Nº 11.326, de 24 de julho de 2006. Recuperado em 10 de Janeiro de 2020, de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11326.htm.

Brasil. (2017). Decreto Nº 9.064, de 31 de maio de 2017. Recuperado em 10 de Janeiro de 2020, de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9064.htm.

Campanhola, C., & Graziano da Silva, J. (Orgs.), (2000). O novo rural brasileiro: uma análise nacional e regional. Jaguariúna: EMBRAPA.

Carneiro, M. J. (1997). Política pública e agricultura familiar: uma leitura do PRONAF. Estudos Sociedade e Agricultura, 8, 70-82.

Carneiro, M. J. (1998). Ruralidade: novas identidades em construção. Estudos Sociedade e Agricultura, 11, 53-75.

Delgado, G. C. (2005). O setor de subsistência na economia brasileira: gênese histórica e formas de reprodução. In L. Jaccoud (Org.), Questão social e políticas sociais no Brasil contemporâneo (pp. 19-50). Brasília: IPEA.

Delgado, G. C. (2012). Do capital financeiro na agricultura à economia do agronegócio: mudanças cíclicas em meio século (1965-2012). Porto Alegre: Editora da UFRGS.

DelGrossi, M. E. (2017). A agricultura familiar e a nova ruralidade entre 2004 e 2014. In R. S. Maluf & G. Flexor (Eds.), Questões agrárias, agrícolas e rurais: conjunturas e políticas públicas (pp. 257–268). Rio de Janeiro: E-papers Serviços Editoriais.

DelGrossi, M. E. (2019). Agricultura familiar: um caso de sucesso das políticas públicas. Jornal Correio Braziliense, Recuperado em 18 de novembro, de https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opiniao/2019/11/18/internas_opiniao,807192/artigo-agricultura-familiar-um-caso-de-sucesso-das-politicas-publica.shtml

DelGrossi, M. E., Florido, A. C., Rodrigues, L.F., & Oliveira, M. S. (2019). Comunicação de pesquisa: delimitando a agricultura familiar nos censos agropecuários brasileiros. Revista NECAT, 16, 40-45.

Escher, F., Schneider, S., Scarton, L. M., & Conterato, M. A. (2014). Caracterização da pluriatividade e dos plurirrendimentos da agricultura brasileira a partir do Censo Agropecuário 2006. Revista de Economia e Sociologia Rural, 52(4), 643-668.

França, C. G., DelGrossi, M. E., & Marques, V. P. M. A. (2009). O Censo Agropecuário 2006 e a agricultura familiar no Brasil. Brasília: MDA.

Graziano da Silva, J. (1998). A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas, SP: UNICAMP-IE.

Graziano da Silva, J. (1999). O novo rural brasileiro (2. ed.). Campinas: UNICAMP/IE.

Graziano da Silva, J. (2001). Velhos e novos mitos do rural brasileiro. Estudos Avançados, 15(43), 37-50.

Graziano, X. (2019). Censo Agropecuário derruba narrativa da esquerda agrária. Jornal Correio da Semana, Recuperado em 30 de outubro, de https://jornalcorreiodasemana.com.br/2019/10/30/opiniao-censo-agropecuario-derruba-narrativa-da-esquerda-agraria/

Grisa, C., Schneider, S., & Conterato, M. A. (2014). A produção para autoconsumo no Brasil: uma análise a partir do Censo Agropecuário 2006. In S. Schneider & B. Ferreira & F. Alves (Orgs.), Aspectos multidimensionais da agricultura brasileira: diferentes visões do Censo Agropecuário 2006 (pp. 165-186). Brasília: IPEA.

Guanziroli, C. E., & Cardim, S. E. (2000). Novo retrato da agricultura familiar: o Brasil redescoberto. Brasília: editora.

Gujarati, D. N. (2006). Econometria básica (4. ed.). Rio de Janeiro: Ed. Campus.

Hoffmann, R. (2000). Quatro tipos de testes de hipóteses com os dados das PNADs. In C. Campanhola & J. Graziano da Silva (Orgs.), O novo rural brasileiro: uma análise nacional e regional (pp. 137-155). Jaguariúna: EMBRAPA.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. (2018). Microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios (PNAD). Recuperado em 20 de Janeiro de 2020, de https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/19897-sintese-de-indicadores-pnad2.html?=&t=microdados.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE/SIDRA. (2019). Censo Agropecuário 2017: resultados definitivos. Rio de Janeiro: IBGE. Recuperado em 20 de Janeiro de 2020, de <https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-agropecuario/censo-agropecuario-2017>.

Kageyama, A. A., & Bergamasco, S. M. P. P. (1989/1990). A estrutura da produção no campo em 1980. Perspectivas, 12(13), 55-72.

Lamarche, H. (Coord.), (1993). A agricultura familiar: comparação internacional (Vol. 1). Campinas: Editora da UNICAMP.

Laurenti, A. C., Pellini, T., & Telles, T. S. (2015). Evolução da ocupação e do rendimento das pessoas no espaço rural brasileiro no período de 2001 a 2009. Revista de Economia e Sociologia Rural, 53(2), 321-342.

Leporati, M., Salcedo, S., Jara, B., Boero, V., & Muñoz, M. (2014). La agricultura familiar em cifras. In: S. Salcedo, & L. Gusmán (Eds.), Agricultura familiar en América Latina y el Caribe (pp. 35-56). Santiago/Chile: FAO.

Nascimento, C. A. (2008). Pluriatividade, pobreza rural e políticas públicas: uma análise comparada entre Brasil e União Europeia. Fortaleza: BNB. (BNB Teses e Dissertações; n. 11).

Nascimento, C. A. (2009). A pluriatividade das famílias rurais no Nordeste e no Sul do Brasil: pobreza rural e políticas públicas. Economia e Sociedade, 18(2), 317-348.

Neder, H. D. (2000). A Utilização estatística das informações das PNADs: testes de hipóteses e reamostragem. In: C. Campanhola, & J. Graziano da Silva (Orgs.), O novo rural brasileiro: uma análise nacional e regional (pp. 101-136). Jaguariúna: EMBRAPA.

Nery, C. (2019). Em onze anos, agricultura familiar perde 9,5% dos estabelecimentos e 2,2 milhões de postos de trabalho. Rio de Janeiro: IBGE. Recuperado em 25 de outubro, de https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/25786-em-onze-anos-agricultura-familiar-perde-9-5-dos-estabelecimentos-e-2-2-milhoes-de-postos-de-trabalho

Sacco dos Anjos, F. (1995). A agricultura familiar em transformação: o caso dos colonos-operários de Massaranduba (Santa Catarina). Pelotas: Editora da UFPEL.

Schneider, S. (2003). Pluriatividade na agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da UFRGS.

Schneider, S. (2010). Reflexões sobre diversidade e diversificação: agricultura, formas familiares e desenvolvimento rural. Ruris: Revista do Centro de Estudos Rurais, 4(1), 85-131.

Seyferth, G. (1987). Aspectos da proletarização do campesinato no Vale do Itajaí (SC): os colonos-operários. In J. S. L. Lopes (Coord.), Cultura & identidade operária: aspectos da cultura da classe trabalhadora (pp. 103-120). Rio de Janeiro: UFRJ; São Paulo: PROED.

Wanderley, M. N. B. (2014). O campesinato brasileiro: uma história de resistência. Revista de Economia e Sociologia Rural, 52(1), 25-44.

Wanderley, M. N. B. (2017). “Franja periférica”, “pobres do campo”, “camponeses”: dilemas da inclusão social dos pequenos agricultores familiares. In G. C. Delgado & S. M. P. P. Bergamasco (Orgs.), Agricultura familiar brasileira: desafios e perspectivas de futuro (pp. 64-81). Brasília: SEAF.
 


Submetido em:
20/06/2020

Aceito em:
03/03/2021

614b1369a9539511266637e3 resr Articles
Links & Downloads

resr

Share this page
Page Sections