Revista de Economia e Sociologia Rural
http://www.resr.periodikos.com.br/article/doi/10.1590/1806-9479.2022.267067
Revista de Economia e Sociologia Rural
ARTIGO ORIGINAL

Uma análise empírica sobre os determinantes da quantidade de produtores de alimentos orgânicos nos municípios brasileiros

An empirical analysis on the determinants of the quantity of organic food producers in Brazilian municipalities

Alice Vasconcelos Silva; Vinícius de Azevedo Couto Firme

Downloads: 0
Views: 282

Resumo

Dada a reduzida participação brasileira na produção mundial de alimentos orgânicos e seu potencial no ramo alimentício, avaliou-se, via dados cross-section (baseados nos produtores orgânicos, cadastrados em janeiro/2022), quais características locais explicariam o número de empreendimentos orgânicos nos municípios brasileiros. Para tanto, consideraram-se os estimadores de MQO, Poisson e Binomial Negativo, inclusive “zero inflated”, com correções (via instrumentos) para variável endógena. Verificou-se que os produtores orgânicos seriam atraídos para os municípios mais próximos à capital estadual, populosos, ricos, de clima estável, levemente chuvosos, de temperatura amena, com melhor educação, população predominantemente rural, cujos produtores rurais têm entre 25-55 anos e que possuem produtores orgânicos na vizinhança. Ademais, eles parecem preferir locais com mais propriedades rurais entre 5-50 hectares, com irrigação própria, mão-de-obra familiar e que evitam agrotóxicos. Alternativamente, cidades com forte produção agropecuária, elevados gastos públicos nesta área e em transportes, cujas propriedades possuem sistemas próprios de armazenagem e recebem mais assistência técnica, seriam preteridos. Por fim, verificou-se que os alimentos convencionais e orgânicos seriam bens substitutos, que as regiões Sul e Nordeste são mais propícias a este ramo e que o Centro-Oeste quase não possui cidades promissoras, sugerindo que os produtores (convencionais) locais impõem barreiras à entrada de orgânicos.

Palavras-chave

economia rural, produtores orgânicos, métodos quantitativos

Abstract

Abstract: Considering the reduced Brazilian participation in the world production of organic food and its potential in the traditional farming, we used cross-section data (based on organic producers, registered in January/2022) to analyses which local characteristics would explain the number of organic producers in Brazilian’s municipalities. The OLS, Poisson and Negative Binomial estimators, including “zero inflated” and endogeneity corrections (via instruments), were considered. It was found that organic producers would rather be in cities that are near from state capital, which are populous, rich, with a stable climate, slightly rainy, mild temperatures, better education, predominantly rural population, whose rural producers are between 25-55 years old, and which have organic producers in the neighborhood. Furthermore, they prefer places with more rural properties between 5-50 hectares, with their own irrigation, family-labor activity and that usually avoid pesticides. Alternatively, cities with strong agricultural production and high public expenditures in this area, whose properties have their own storage systems and receive more technical assistance, would be neglected. Finally, it was found a substitution relationship between traditional and organic foods and a more favorable environment to this segment in South and Northeast regions, with an indicative of barrier to organic’s entry in the Midwest.

Keywords

rural economy, organic producers, quantitative methods

Referências

Aertsens, J., Mondelaers, K., & Huylenbroeck, G. (2009a). Differences in retail strategies on the emerging organic market. British Food Journal, 111(2), 138-154.

Aertsens, J., Verbeke, W., Mondelaers, K., & Huylenbroeck, G. (2009b). Personal determinants of organic food consumption: a review. British Food Journal, 111(10), 1140-1167.

Akkas, A., Gaur, V., & Simchi-Levi, D. (2018). Drivers of product expiration in consumer packaged goods retailing. Management Science, 65(5), 2179-2195.

Almeida, E. (2012). Econometria Espacial Aplicada. Campinas, SP: Editora Alínea.

Alves, A. C. O., Santos, A. L. S., & Azevedo, R. M. M. C. (2012). Agricultura orgânica no Brasil: sua trajetória para a certificação compulsória. Revista Brasileira de Agroecologia, 7(2), 19-27.

Aragão, A., & Contini, E. (2021). O agro no Brasil e no Mundo: uma síntese do período de 2000 a 2020. Brasília: Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas - EMBRAPA.

Aschemann, J., Hamm, U., Naspetti, S., & Zanoli, R. (2007). The organic market. In: Lockeretz, W. (Ed.). Organic farming: an international history (282 p.). Oxfordshire: CAB International.

Assis, R. L., & Romeiro, A. R. (2007). O processo de conversão de sistemas de produção de hortaliças convencionais para orgânicos. Revista de Administração Pública, 41, 863-885.

Assis, R.L. (2005). Agricultura orgânica e agroecologia: questões conceituais e processo de conversão (Embrapa Agrobiologia. Documentos, 196). Seropédica: EMBRAPA/Agrobiologia.

Audeh, S. J. S., Lima, A. C. R. D., Cardoso, I. M., Jucksch, I., & Casalinho, H. D. (2011). Qualidade do solo: uma visão etnopedológica em propriedades agrícolas familiares produtoras de fumo orgânico. Revista Brasileira de Agroecologia, 6(3), 34-48.

Ávila, L. F., Mello, C. R., & Viola, M. R. (2009). Mapeamento da precipitação mínima provável para o sul de Minas Gerais. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, 13, 906-915.

Barbosa, W.F. & Sousa, E. P. (2012). Agricultura orgânica no Brasil: características e desafios. Revista Economia & Tecnologia, 8(4), 67-74.

Bergamaschi, H., & Matzenauer, R. (2014). O milho e o clima (Vol. 84, p. 85). Porto Alegre: Emater/RS-Ascar.

Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. (2022). Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos. Recuperado em 22 de agosto de 2022, de https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sustentabilidade/organicos/cadastro-nacional-produtores-organicos

Brigatte, H., & Teixeira, E. C. (2011). Determinantes de longo prazo do produto e da Produtividade Total dos Fatores da agropecuária brasileira no período 1974-2005. Revista de Economia e Sociologia Rural, 49(4), 815-836.

Cameron, A. C., & Trivedi, P. K. (2009). Microeconometrics using STATA (692 p.). College Station, TX: Stata Press.

Cameron, A. C., & Trivedi, P. K. (2013). Regression analysis of count data (2nd ed.). New York: Cambridge University Press.

Coelho, C. N. (2001). A expansão e o potencial do mercado mundial de produtos orgânicos. Revista de Política Agrícola, 10(2), 9-26.

Costa, C. C. D. M., Almeida, A. L. T. D., Ferreira, M. A. M., & Silva, E. A. (2013). Determinantes do desenvolvimento do setor agropecuário nos municípios. Revista de Administração (São Paulo), 48(2), 295-309.

Coxe, S., West, S. G., & Aiken, L. S. (2009). The analysis of count data: A gentle introduction to Poisson regression and its alternatives. Journal of Personality Assessment, 91(2), 121-136.

Departamento de Informática do SUS - DATASUS. (2022). População residente por município e faixa etária 2. Recuperado em 22 de agosto de 2022, de https://datasus.saude.gov.br/populacao-residente

Feiden, A., Almeida, D. D., Vitoi, V., & Assis, R. D. (2002). Processo de conversão de sistemas de produção convencionais para sistemas de produção orgânicos. Cadernos de Ciência & Tecnologia, 19(2), 179-204.

Firme, V. A. C. (2018). Uma análise preditiva para o uso do instrumento antidumping na Argentina. Nova Economia, 28, 39-70.

Fonseca, M. F. A. C. (2009). Agricultura orgânica: regulamentos técnicos e acesso aos mercados dos produtos orgânicos no Brasil (119 p.). Niterói: PESAGRO.

Food and Agriculture Organization from United Nations - FAOSTAT. (2021). Recuperado em 22 de agosto de 2022, de https://www.fao.org/faostat/en/

Freitas, E.R. (2020). Exportações agropecuárias brasileiras nos grandes mercados. Boletim Regional, Urbano e Ambiental - IPEA, 24, 119-130.

Gasques, J. G., Bacchi, M. R. P., & Bastos, E. T. (2017). Impactos do crédito rural sobre variáveis do agronegócio. Revista de Política Agrícola, 26(4), 132-140.

Gasques, J. G., Vieira Filho, J. E. R., & Navarro, Z. (2009). Produtividade total dos fatores e transformações da agricultura brasileira: análise dos dados dos censos agropecuários. In Anais do 48º Congresso SOBER, Campo Grande/MS.

Getis, A., & Ord, J. K. (1992). The analysis of spatial association by use of distance statistics. Geographical Analysis, 24(3), 189-206.

Granada, M. (2016). Ciência do café: transferência de conhecimentos sobre ciência e tecnologia para o cafeicultor. (Dissertação de mestrado). Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Gray, E., Jackson, T. & Zhao, S. (2011). Rural Industries Research Development Corporation. Agricultural productivity: concepts, measurement and factors driving it: a perspective from the ABARES productivity analyses. Barton, A.C.T.: RIRDC.

Greene, W. H. (2002). Econometric analysis (802 p.). Upper Saddle River/NJ: Prentice Hall.

Hughner, R. S., Mcdonagh, P., Prothero, A., Shultz, C. J., & Stanton, J. (2007). Who are organic food consumers? A compilation and review of why people purchase organic food. Journal of Consumer Behaviour: An International Research Review, 6(2‐3), 94-110.

Hutchinson, M. K., & Holtman, M. C. (2005). Analysis of count data using poisson regression. Research in Nursing & Health, 28(5), 408-418.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica - IBGE, & Sistema IBGE de Recuperação Automática - SIDRA. (2022). Recuperado em 22 de agosto de 2022, de https://sidra.ibge.gov.br/

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEADATA. (2022). Recuperado em 22 de agosto de 2022, de http://ipeadata.gov.br

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP. (2022). Matrículas do censo escolar. Recuperado em 22 de agosto de 2022, de https://www.gov.br/inep/pt-br/acesso-a-informacao/dados-abertos/inep-data/consulta-matricula

International Federation of Organic Agriculture Movements - IFOAM. (2022). Recuperado em 22 de agosto de 2022, de https://www.ifoam.bio/

Kelejian, H., & Piras, G. (2017). Spatial econometrics. Cambridge: Academic Press.

Landau, E. C., Guimarães, L. D. S., Hirsch, A., Guimarães, D. P., Matrangolo, W. J. R., & Gonçalves, M. T. (2013). Concentração geográfica da agricultura familiar no Brasil (Documentos EMBRAPA, No. 155, 68 p.). Sete Lagoas: Embrapa milho e sorgo. Recuperado em 22 de agosto de 2022, de https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/200549/1/doc-155.pdf

Lima, S.K., Galiza, M., Valadares, A.A. & Alves, F. (2020). Produção e consumo de produtos orgânicos no mundo e no Brasil (Texto para Discussão do IPEA, No. 2538). Cambridge, MA: Cromwell Press.

Lockeretz, W. (2007). What explains the rise of organic farming? In Lockeretz, W. (Ed.), Organic farming: an international history (282 p.). Oxfordshire: CAB International.

Lopes, I. V., Lopes, M. D. R., & Barcelos, F. C. (2007). Das políticas de substituição das importações à agricultura moderna do Brasil. Revista de Política Agrícola, 16(4), 52-85.

Manjón, M., & Martínez, O. (2014). The chi-squared goodness-of-fit test for count-data models. The Stata Journal, 14, 798-816.

Manosso, F. C. (2005). A produtividade de soja, trigo e milho e suas relações com a precipitação pluviométrica no município de Apucarana-PR no período de 1968 a 2002. Geografia (Londrina), 14(1), 87-98.

Mazzoleni, E. M., & Nogueira, J. M. (2006). Agricultura orgânica: características básicas do seu produtor. Revista de Economia e Sociologia Rural, 44(2), 263-293.

Meijerink, G., & Roza, P. (2007). The role of agriculture in economic development. Markets, Chains and Sustainable Development Strategy and Policy (Paper No 5). Wageningen: Stichting, DLO.

Mendes, S., Teixeira, E., & Salvato, M. (2009). Investimentos em infraestrutura e produtividade total dos fatores na agricultura brasileira: 1985-2004. Revista Brasileira de Economia, 63(2), 91-102.

Moraes, M. D., & Oliveira, N. A. M. (2017). Produção orgânica e agricultura familiar: obstáculos e oportunidades. Desenvolvimento Socioeconômico em Debate, 3(1), 19-37.

Mullahy, J. (1997). Instrumental-variable estimation of count data models: applications to models of cigarette smoking behavior. The Review of Economics and Statistics, 79(4), 586-593.

Ormond, J. G. P., Paula, S. R. L., Faveret Filho, P. & Rocha, L. T. M. (2002). Agricultura orgânica: quando o passado é futuro. BNDES Setorial, 15, 3-34.

Pindick, R. S., & Rubinfeld, D. L. (2004). Econometria: modelos & previsões (726 p.). Rio de Janeiro, Campus/Elsevier, Tradução da 4ª Edição americana.

Purquerio, L. F., & Tivelli, S. W. (2006). Manejo do ambiente em cultivo protegido. In L. F. Purquerio, & S. W. Tivelli. Manual técnico de orientação: projeto hortalimento (pp. 15-29). São Paulo: Codeagro. Recuperado em 22 de agosto de 2022, de https://www.bibliotecaagptea.org.br/administracao/educacao/artigos/MANEJO%20DO%20AMBIENTE%20EM%20CULTIVO%20PROTEGIDO.pdf

Research Institute of Organic Agriculture - FiBL STATISTICS (2022). Recuperado em 22 de agosto de 2022, de https://statistics.fibl.org/data.html

Sambuichi, R. H. R., Policarpo, M. A., Perin, G., & Almeida, A. F. C. (2021). Análise do programa de aquisição de alimentos - PAA como um instrumento da política nacional de agroecologia e produção orgânica. In Anais do 59º Congresso da SOBER. Brasília.

Schwertner, J. J., Souza, F., Schwertner, E., Da Silva, R. A. & Arruda D. (2021). Desempenho dos principais estados brasileiros exportadores de carne bovina (2000-2020). In Anais do 24º Encontro de Economia da Região Sul - ANPEC/SUL. Niterói.

Silva, A. P. F. D., & Sousa, A. A. D. (2013). Alimentos orgânicos da agricultura familiar no Programa Nacional de alimentação Escolar do Estado de Santa Catarina, Brasil. Revista de Nutrição, 26, 701-714.

Souza, R. P., Batista, A. P., & Silva, C. A. (2019). As tendências da certificação de orgânicos no Brasil. Estudos Sociedade e Agricultura, 27(1), 95-117.

StataCorpLLC. (2015). Stata Base Reference Manual - Stata Manual. Release 14. (2843 p.). College Station, TX: Stata Press.

Teixeira, J.C. (2005). Modernização da agricultura no Brasil: impactos econômicos, sociais e ambientais. Revista Eletrônica da Associação dos Geógrafos Brasileiros, 2(2), 21-42.

Vieira Filho, J. E. R., & Gasques, J. G. (2020). Uma jornada pelos contrastes do Brasil: cem anos do censo agropecuário (410 p.). Brasília: IPEA/IBGE.

Vogt, G. (2007). The origins of organic farming. In W. Lockeretz (Ed.), Organic farming: an international history (282 p.). Oxfordshire: CAB International.

White, R., & Yamasaki, N. (2014). Source-destination cultural differences, immigrants’ skill levels, and immigrant stocks: evidence from six OECD member countries. National Institute Economic Review, (229), 53-67.

Willer, H., & Lernoud, J. (2019). The World of Organic Agriculture Statistics and Emerging Trends 2019. Germany: Research Institute of Organic Agriculture, FIBL/Organics International, IFOAM.

Willer, H., Yussefi, M., & Sorensen, N. (2010).The world of organic agriculture: statistics and emerging trends 2008 (266 p.). London: Earthscan.

Wooldridge, J. (2010). Introdução à econometria: uma abordagem moderna (4a ed., 701 p.). São Paulo: Cengage-Learning.
 


Submetido em:
22/08/2022

Aceito em:
26/07/2023

653fc762a953953d88635f63 resr Articles
Links & Downloads

resr

Share this page
Page Sections